quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O grito





As crianças brincavam na beira do arroio, entre os pneus velhos e os tijolos quebrados, sob o ameno sol de primavera, quando um deles soltou um grito gutural. Assustados, outros garotos que por ali caminhavam foram lhe acudir, sem saber ao certo o que teria ocorrido. Ao se aproximar mais do guri, Cristian notou o motivo e logo uma sensação nauseabunda lhe atingiu e sequer a mão na boca impediu que do seu interior, em golfos, vomitasse seu pão com ovo sobre o presunto. Sim, um presunto. O corpo de um jovem, por certo não mais que 15 anos, de calção de listras e camiseta branca, emborcado para baixo, descia lentamente a correnteza, com um filete de sangue a lhe acompanhar das entranhas. Depois de limpar o vômito de Cris, puxaram o corpo para beira do arroio e assim, conseguiram ler na camiseta do rapaz: “Dignidade”. Quem seria capaz de matar a dignidade? 

Por Mariana Vieira Medeiros

0 comentários:

Blogger Template by Clairvo